Destroy Everything you Touch foi uma música lançada em 2005 e foi o segundo single do álbum Witching Hour do grupo de música eletrônica Ladytron. Basicamente a letra da música versa sobre vontade de controle, domínio e poder. A mensagem é: ‘Destrua tudo aquilo que estiver te atrapalhando, que possa vir a te atrapalhar ou que te ameaça de alguma forma’ Tenha consideração com aqueles que te ajudaram, mas aniquile as oposições’. “Destroy everything you touch today/ Destroy me this way/ Anything that may desert you/ So it cannot hurt you (…)” “You only have to look behind you/ At who’s underlined you”.
A indeterminação de quem seria a pessoa ou coisa a insistir na tese da destruição total do outro, nos leva a crer que se trata de uma voz interior, formada pela interação/experiência do sujeito com o meio social ou ambiental. Na letra também é uma incógnita quem seriam os “outros” a representar uma ameaça. O outro aqui pode ser um vizinho, colegas de trabalho, uma população, um espaço biofísico, qualquer coisa.
O mais interessante, contudo, é o clipe que produziram para essa música. Claramente o vídeo desloca a questão da destruição do “outro” para a relação que exploradores mantém em um espaço hostil à permanência de comunidades humanas. O que temos são colonizadores humanos buscando se estabelecer em uma determinada área e sofrendo oposição de agentes que há mais tempo “vivem” no lugar. Os ventos, a nevasca e, principalmente, as montanhas, adquirem características antropomórficas no clipe, indicando a agência dessas várias entidades. A estratégia do antropomorfismo sinaliza uma forma horizontal de pensar as relações no espaço: essas relações são conflituosas, no sentido de guerra total, em múltiplos níveis. E pela guerra ou pelas guerras conformam-se alianças, armistícios, distanciamentos, estabilizando a presença dos novos agentes no espaço.
No clipe o sentido de destruição, mesmo como destruição ambiental, ganha novos contornos. Na relação estabelecida por esses grupos humanos e não-humanos emerge as diferenças discursivas, a vontade de poder, a vontade de civilizar, o desejo de controle e dominação do espaço ou da “natureza”. O espelho de narciso surge sob o olhar atento das montanhas: o desejo do homem moderno pelo aumento das suas potencialidades rumo a um ideal de perfeição leva ao caminho da destruição de si mesmo. O “outro”, as montanhas, permanecem.
A forma como as relações estão colocadas nesse vídeo são inspiradoras, no sentido de pensar além das dicotomias muito comuns no debate sobre as intervenções humanas no espaço. Para além de um antropomorfismo um tanto ingênuo, porém, essencial para a mensagem do clipe, é possível apreender que o espaço é uma pluralidade de formas e composições entrelaçadas que se agenciam mutuamente, fazendo emergir novos conflitos, diferenças, materialidades, processos e temporalidades possíveis. É um vídeo que entende o espaço-tempo como pluralidade e conflito. É, sobretudo, uma crítica ao homem moderno, destruidor de si mesmo na arrogante idealização como centro do mundo que subjaz o desejo de domínio e controle.