Oh, I beg you
Can I follow?
Oh, I ask you
Why not always?
Be the ocean where I unravel
Be my only, be the water
And I’m wading
You’re my river running high
Run deep, run wild…
Lykke Li: I Follow Rivers (2011)
No dia 20 de junho, às 13:30, na Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, estarei, finalmente, defendendo a minha tese de doutorado.
A tese que apresentarei analisa os planos de integração nacional do Território Federal do Acre no período departamental (1904-1920) com foco no papel da saúde pública e de médicos na política local e na economia da borracha. Busco compreender o complexo processo de anexação do Acre ao Brasil e defendo que os rios, sobretudo o rio Iaco, foram personagens centrais nas tentativas de construção da ordem pública na região, nos diversos planos de incorporação territorial e nas disputas entre grupos de seringalistas, de diferentes cursos fluviais, pela primazia das relações com o governo federal. Tratava-se de uma competição para sediar a capital de um futuro estado unificado, visando a hegemonia política e econômica sobre toda a região. Nessa disputa, a assistência médica e a saúde pública foram utilizadas como vitrines da civilização, especialmente pelas elites seringalistas do rio Iaco, em Sena Madureira, na capital do Departamento do Alto Purus. Concluo que os rios foram decisivos na atuação dos médicos e nas suas alianças políticas e econômicas, nas dinâmicas de produção da borracha, na conformação de agremiações políticas e nos conflitos entre esses grupos. Foram decisivos também nas relações do governo federal com as elites locais, nos surtos de doenças que marcavam a imagem externa e definia as relações na região, e na escolha da capital do Território do Acre, após a grande cheia do rio Iaco de 1915.
Iaco River, by Diego Gurgel.
Os rios, assim, são entendidos como agentes políticos. Esses corpos de água eram as únicas vias de comunicação entre os departamentos e o Brasil, e o ciclo anual de cheias e vazantes ora fortalecia, ora enfraquecia a posição política das elites seringalistas e dos agentes do Estado. Os cursos fluviais foram partícipes do processo de diferenciação política que conformou as diferentes agremiações que lutavam pelo poder no Território do Acre. Por fim, o rio Iaco foi uma intensa força dissolutiva que destruiu o núcleo urbano de Sena Madureira durante a grande cheia de 1915, intensificou a crise da borracha nos seringais de suas margens e fortaleceu a posição de Rio Branco como candidata a futura capital do Acre.
A epígrafe da tese é o trecho da música “I Follow Rivers”, da cantora sueca Lykke li, que abre essa postagem. Procuro com esse trecho da música, na abertura da tese, chamar a atenção para o fato de eu ter preferido seguir os rios em suas diferentes participações no curso das relações e processos políticos no Território Federal do Acre, no início do século XX. É uma forma de enfatizar que os rios não são o palco das relações políticas e sociais humanas, mas partícipes desses processos, em uma abordagem mais relacional e menos antropocêntrica.