Nessa semana estou participando de uma jornada de pós-graduação, e por isso meus dias tem sido bastante corridos. Entretanto, ao entrar nas redes sociais hoje, percebi que há uma espécie de “comemoração” por ser 21 de outubro de 2015, “data futura” do clássico filme Back to the Future. A hastag #backtothefutureday está no topo dos trending topics do twitter hoje.
Eu não poderia assim, me furtar a, pelo menos, postar algumas coisas muito pontuais sobre como o futuro vem sendo pensado desde o último século. Creio que essa data pode ser útil para pensarmos o próprio presente e o futuro. O que o humano está fazendo dele mesmo? O que a noção acrítica de progresso e desenvolvimento tem gerado no planeta? Entenda que, ao falar “no planeta” estou indicando tudo o que há nele, incluindo o humano.
Considero essa reflexão importante para o trabalho do historiador. Afinal, para que serve a História, se não para intervimos no presente, visando um futuro? Não acredito em uma noção de História ‘desinteressada’. Pelo contrário, ela precisa ser completamente interessada nos rumos do planeta (e talvez fora dele também, já que atualmente há um investimento pesado na busca por planetas habitáveis, cogitando-se a colonização de novos espaços).
Um dos ensaios sobre o futuro que mais me agradam é o Ântropos ou Cibernântropos (1967) do geógrafo Henri Lefebvre. Aqui Lefebvre dá algumas pistas do que ele pensa sobre o futuro da humanidade em sua incansável busca pelo aumento das capacidades do corpo, das emoções, do capital, via a racionalidade técnica. Para ele, estabilidade, equilíbrio, auto-regulação viriam a unir ideal e real, ligando-se aos conceitos de norma, de regra e de eficiência no humano do futuro. O ciberântropo não seria um robô, mas se denuncia por sua admiração a ele, por ver nele a sua imagem e semelhança, o ideal e o real. Desse modo, o humano viveria em simbiose com a máquina, compreendendo suas fraquezas, e buscando fugir delas, graças ao autômato. Esse ensaio antecipa algumas das considerações feitas por Donna Haraway em A Cyborg Manifesto, e lança algumas bases para a crítica e resistência ao que ele chama de ciberântropo.
Esse ensaio é extremamente rico, e é possível ver muito da sociedade atual nele. Não nos vemos hoje longe do celular, do laptop, dos remédios para depressão e ansiedade, do psicólogo, da academia onde exercitamos o nosso corpo, do microondas, do ar-condicionado… Todos eles estão conosco, promovendo o aumento da eficiência humana, minimizando nossas limitações corporais. Nas fotografias, nosso mundo parece mais belo, feliz e radiante pelos softwares ou “filtros” que utilizamos nas imagens postadas em redes sociais (as provas de nosso “feliz?” cotidiano). Mas há as mudanças mais profundas, as cirurgias estéticas, as próteses de silicone, as substâncias ingeridas para adquirirmos o “corpo perfeito?” da academia… Há uma ligação íntima, porém não tão explícita, dessa busca pela quebra dos limites da capacidade humana com as mudanças climáticas. O planeta se modifica nesse processo utópico e irresponsável da superação das limitações humanas.
Tudo isso alimenta, em outro nível, os planos e delírios de defensores de um desenvolvimento acelerado, que visa, de modo geral, aumentar as potencialidades de consumo humano, desde os mais ricos aos mais pobres, gerando mais contradições no capitalismo e sua, quem sabe, auto-destruição. Do outro lado, há os singularitanos, que crêem na imortalidade humana por meio do hibrido humano – máquina, e no fim dos Estados. É a face não-tão-futurista-assim da dicotomia esquerda – direita. Essa é uma pequena parte de nossa preocupante condição atual e que nos chama a pensar (e agir) mais sobre o futuro.
Após essas breves considerações, deixo abaixo dois vídeos que encerram essa provocação. O primeiro é um curta-metragem chamado Sight. O segundo, trata-se de um clipe da música “In the Year 2525” de Zager & Evans, com cenas do filme Metropolis (1927), de Fritz Lang. Referências que considero pertinentes para um atual #backtothefutureday.